segunda-feira, 18 de abril de 2011

Ternura


Ternura

"O que você acha de acrescentar mais tempo 
para a pessoa mais importante do mundo: você mesmo..." 

“O amor resume a doutrina de Jesus toda inteira, visto que esse é o sentimento por excelência, e os sentimentos são os instintos elevados à altura do progresso feito.
Em sua origem, o homem só tem instintos; quando mais avançado e corrompido, só tem sensações; quando instruído e depurado, tem sentimentos. E o ponto delicado do sentimento é o amor, não o amor no sentido vulgar do termo, mas esse sol interior que condensa e reúne em seu ardente foco todas as aspirações e todas as revelações sobre-humanas.”
Allan Kardec - O Evangelho Segundo o Espiritismo – A Lei do Amor – Lázaro - Paris 1867
Ao buscar um “caminho” que me orientasse a melhor iniciar e, passo seguinte, desenvolver um texto que contivesse solidamente algumas considerações sobre a ternura, passaram por minha mente infinitos “elos”, por assim dizer, todos eles remetendo invariavelmente à palavra amor. Não o amor no sentido vulgar do termo, mas aquele substantivo, que transcende a matéria originando-se na própria alma e nela se aninhando.
Ponderei sobre os fatos do cotidiano, presentes na vida de todos nós em qualquer parte do mundo dito “moderno”, e mergulhei profundamente numa viagem de retrospectiva familiar – a época de meus avós e a de meus pais – contemplando acontecimentos marcantes que vieram se sucedendo nos últimos 100 anos, desde o início do século XX; atendo-me quase que exclusivamente a considerar o comportamento humano e suas idiossincrasias diante do interrelacionamento nas mais diferentes circunstâncias – desde a vida em comunidade, no ambiente profissional, no convívio familiar, com os amigos, parentes e familiares mais próximos..., chegando ao ambiente doméstico, no aconchego do lar. Assinalei, com dorida surpresa, marcantes alterações ocorridas nesses relacionamentos ao longo do período palmilhado.
Não é minha pretensão, nem seria oportuno nesta singela crônica acerca da ternura, analisar historicamente a conjuntura mundial ao longo desse período, suas causas e desdobramentos, ou mesmo perscrutar os fatos que interferiram sociologicamente no ambiente restrito ao nosso país; longe disso minha “viagem no tempo” cingiu-se a verificar alterações comportamentais que estão contribuindo em ritmo progressivo para tornar cada vez mais supérfluos e rude os sentimentos sutis que deveriam permear as relações humanas, e especialmente exteriorizados àquelas com quem se convive mais intimamente.
Apenas para citar, creio que alguns episódios históricos têm merecido destaque nesse, chamemos, retrocesso:
A 1ª Guerra Mundial com seus reflexos subseqüentes no cotidiano dos indivíduos, a “Grande Depressão Americana”, a 2ª Grande Guerra, o advento da televisão e, posteriormente o “boom” das telecomunicações, passando pelos “movimentos ditos feministas” pleiteando sua “igualdade”, a invenção dos preservativos sexuais, as pílulas anticoncepcionais, e por aí vai... Tudo isso – o que não é pouco – atrelado a vulgarização do ato sexual, por homens, mulheres e outros mais... Ufa ! E a mídia ? Bem, os empresários desse setor estão mais preocupados com as taxas de audiência de seus veículos e emissoras, sem se importarem se estão contribuindo para a deformação dos valores que desde sempre se constituem nos pilares da família humana.
Mas o que tudo isso tem a ver com a ternura? Respondo em uma só palavra: Tudo !
Os costumes modificaram-se numa velocidade impressionante e de difícil acompanhamento: as mulheres antes habituadas às tarefas domésticas tiveram que “sair à luta” para auxiliar no orçamento doméstico buscando trabalho nos mercados outrora exclusivos aos homens; estes sentiram a competição e também tiveram que redobrar seu empenho para conseguirem se manter nos empregos. A tecnologia ceifou milhões de empregos no mundo inteiro, tornando a competição pelos postos de trabalho cada vez mais acirrada; haja vista as taxas de desemprego divulgadas em todo o mundo, inclusive ensejando os programas sociais existentes em nosso país.
Essa realidade, antigamente inexistente, eliminou “o almoço em casa” – não há mais tempo para isso, o horário “apertado” para se ter uma conversa familiar acaba por ficar restrito a algumas poucas horas por semana, se tanto... Ainda assim divididas, ou interrompidas, com “diversões televisivas” representadas pelas famigeradas novelas e “Reality Shows”. “Os almoços de domingo” com a presença de toda a família, e até os namorados das filhas – oportunidade que havia para melhor conhecer os “pretendentes a genro”, hora não passam de “programas alcunhados de careta”.
Sem tempo (ou motivação) para namorar inventou-se o “ficar”, termo por si só libertino, onde o sexo casual para satisfação exclusiva dos prazeres da carne – ou seja, animais, tomou lugar quebrando-se o encanto, a fantasia e jogando na vala comum o êxtase de um sentimento que deveria constituir-se na mais pura das emoções construída e conquistada através do amor sincero desenvolvido entre um homem e uma mulher.
Os indivíduos banalizaram-se moralmente e alteraram a prioridade de seus valores colocando no topo as conquistas pessoais o sucesso amoedado. E parece que nessa “pirâmide” existe apenas isso... A sociedade consumista, com seus apelos cada vez maiores e mais atraentes “acena” com o carro novo, o “mais potente notebook”, a câmara com zilhões de pixels e, para fazer sexo, até bonecas de material sintético “perfeitas” (que de nada reclamam e tudo permitem)...
Naturalmente a droga campeando em todos os quadrantes da nação e junto aos diferentes níveis sociais, além de outras aberrações como “bacanais” travestidos de “festas liberais” – que nada têm a dever àquelas promovidas na Roma antiga, tornaram-se comuns nas grandes cidades...
O advento das igrejas defensoras e divulgadoras da “teologia da prosperidade” se incumbiram de completar o quadro antevisto por Dante e registrado com maestria em sua principal obra.
Destarte defendo enfaticamente que urgem mudanças..., sérias mudanças!
Alguns povos de países europeus estão aplicando – com excelentes resultados o “Slow Life”, que significa desacelerar para reconectar-se a si mesmo, às pessoas e ao lugar em que se vive. É possível que isto lhe soe como contracultural..., desacelerar o passo ? Pois sim, vou ser engolido/a ! Pensa-se assim porque vivemos na era da velocidade, em que consumir a última geração dos aparatos tecnológicos, os modelos mais recentes da moda, a mais nova “fórmula miraculosa para emagrecer” é uma luta diária e sem fim... E sem sentido algum!
Isso é qualidade boa de vida ? Isso é “avanço” ? O que essas invenções ou “invencionices” contribuem efetivamente para melhorar nossas vidas ? Acaso temos mais tempo livre hoje ? O que fazemos com ele ? Vamos ao Shopping, freqüentamos cursos do tipo “autoajuda” promovido por alguns “gurus espertalhões” e de reciclagem para não perdermos o emprego ? Será que realmente a felicidade mora na velocidade ?
O que você acha de desacelerar? Acrescentar mais tempo para a pessoa mais importante do mundo que é você mesmo... Dedicar tempo para passear com seu cão, brincar com seus filhos, voltar a namorar sua esposa, ou seu marido, restabelecer “o almoço dos domingos” com a presença obrigatória de todos, convidar os/as namoradas dos filhos, genros, noras e “os velhos queridos”?
Experimente! Tente... Persista! Desacelere o passo e viva melhor, aproveite a experiência de quem já está nesse caminho há mais tempo. Procure ler, pesquisar na WEB; visite o site "Slow Movement”: www.slowmovement.com

Estou seguro em afirmar que além de interromper e inverter a direção da queda nós estaremos subindo o despenhadeiro em que mergulhamos inconscientemente e melhoraremos sensivelmente nossa qualidade de vida: primeiro em prol de nós próprios e a seguir com benefícios todos ao nosso derredor, tornando-nos mais “tenros”, adquiriremos mais paciência, tendo mais docilidade, mais brandura, mais calma, maior entendimento, mais paz interior e nossa vida assim também os relacionamentos – especialmente entre os casais, fluirão mais calmamente, como um regaço e não mais como um rio caudaloso, turbulento e cheio de quedas d’água… nossas quedas.
Aí então conseguiremos realmente saber o que é amar…, como toda ternura!
9 de abril de 2011

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